O cenário econômico americano, que inclui uma atividade forte e uma inflação resistente, pode não ser favorável para o Brasil, de acordo com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Essa situação da economia americana levou o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), a decidir, nesta quarta-feira pela manutenção das principais taxas de juros da economia do país pela sexta vez consecutiva.
Vale explica que, com a manutenção dos juros dos EUA em patamar elevado, fica mais difícil para o Banco Central brasileiro reduzir a taxa daqui. E, com o juro brasileiro também alto, o crescimento da economia local perde força. “Diminui a possibilidade de o Brasil crescer um pouco mais e chegar a 3% e fica mais provável uma alta no PIB entre 2% e 2,5%”, diz.
O economista destaca também que a manutenção dos juros americanos prejudica a candidatura à reeleição do presidente Joe Biden, dado o desconforto da população no país com o preço do crédito. “Com o Biden enfraquecido, apesar da situação jurídica de Trump não ajudar, o Trump sai favorecido. E o Trump voltando, pode haver um movimento disruptivo para a política e a economia mundial.”
Como avalia a decisão do Fed?
Era esperada, dados os últimos dados de atividade e inflação. A atividade americana, especialmente o trabalho, continua forte. Isso faz o Fed sinalizar corretamente que vai levar tempo para os juros começarem a cair. O Fed tem sinalizado que quer um caminho de inflação chegando a 2% e tendo certa tendência desse número ficar em 2%. E o país está muito longe disso. O CPI (índice de preço ao consumidor) nos últimos três meses acelerou (de 0,2% em novembro e dezembro para 0,3% em janeiro e 0,4% em fevereiro e março; no acumulado de 12 meses até março, é de 3,5%). São números preocupantes para o Fed, e a possibilidade é a de que o Fed continue com esse patamar de juros por bastante tempo. Isso só vai mudar se houver uma recessão na economia americana e a inflação começar a convergir para a meta. Sempre fui desconfiado da tese de que haveria um pouso suave. Talvez seja preciso uma desaceleração econômica mais dura.
O que a decisão significa para a economia global?
É preocupante pela implicação política. Suponha que não haja recessão, mas a taxa de inflação continue preocupante e o Fed tem de manter o juro elevado por muito tempo. A sociedade americana tem mostrado descontentamento com a taxa nesse patamar. O crédito e o endividamento estão mais caros. Com o juro nesse patamar, é difícil para Joe Biden se reeleger no fim do ano. Agora, se houver recessão, é ainda pior para ele. Isso quase o impossibilita de ser reeleito. Com o Biden enfraquecido, apesar da situação jurídica de Trump não ajudar, o Trump sai favorecido. E o Trump voltando, pode haver um movimento disruptivo para a política e a economia mundial. A volta dele seria muito prejudicial. A política protecionista seria mais agressiva, não só em relação à China, mas a outros países. Há risco de ser um governo ainda mais intervencionista e protecionista, sem falar que ele pode reverter as políticas ambientais dos últimos anos. Seria um choque negativo nessa área.
E qual o impacto da decisão na economia brasileira?
O impacto que tem
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